A Virgem das
Amêndoas
Autora: Marina Fiorato
Páginas: 288
Editor: Porto Editora
Opinião:
Ao
lançar-me para este livro ia com expectativas bastante elevadas. Já tinha visto
comentários altamente positivos tecidos por quem já tinha o tinha lido. Quando
assim é, acabo por começar a ler os livros a medo… Tenho receio de perceber que
criei uma aura mística à volta daquela obra e que afinal não tinha razão de
ser.
Por
outro lado, às vezes descubro autênticos tesouros, que guardo com imenso
carinho na minha memória, e fico a conhecer novos autores cujos livros são verdadeiras
preciosidades.
Ao
mergulhar na história d’ “A Virgem das Amêndoas” estava efectivamente com
receio de me desiludir. É muito triste, para quem gosta de ler, saber que
gastou dinheiro num livro que não lhe diz nada e cuja história fica aquém das
expectativas que criou. Seja porque a sinopse não corresponde às promessas que
fazia, seja porque os comentários de quem já leu o livro eram positivos e indiciavam
tratar-se de uma boa história. Mas, a meu ver, Marina Fiorato superou o desafio
a que se propôs. A história é de facto fantástica e sustentada por uma boa
pesquisa da época que retrata.
Trata-se
de um romance histórico ambientado no início da época Renascentista, em que a
pintura era uma arte em voga e os grandes mestres eram contratados para
rechearem as paredes das igrejas de frescos religiosos. A história é
protagonizada por Simonetta di Saronno, uma mulher da nobreza que vivia com o
seu marido, Lorenzo, numa villa onde existiam várias amendoeiras. Quando o seu
marido morre em combate às mãos do inimigo, Simonetta vê-se forçada a
administrar a propriedade sozinha. Habituada às mordomias do seu estatuto, não
sabe como lidar com os assuntos mais corriqueiros do dia-a-dia. Contudo,
rapidamente percebe que não tem alternativa. Sobretudo depois de perceber que o
seu amado falecido marido gastou toda a fortuna em cavalos e armamento de
guerra.
Sem
ter qualquer meio de subsistência Simonetta sente-se perdida e desnorteada. Ao
saber da existência de um judeu a quem chamam Manodorata, que ajuda os mais
necessitados que não têm medo de ser castigados por Deus, por não estarem a
seguir os desígnios de Roma, não hesita e procura-o. Mas tudo tem um preço. Antes
de se decidir a ajudá-la, o judeu obriga-a a descobrir um modo de fazer
dinheiro por si própria, mesmo após ela se ter despojado de todos os seus bens
terrenos. A única coisa de que Simonetta não se consegue desfazer é da sua
villa, onde viveu momentos de grande felicidade.
Simonetta
procura então Bernardino Luini, um talentoso pintor (discípulo de da Vinci) e
aceita a oferta que este lhe tinha feito mas que ela tinha repudiado: deixar-se
pintar nos frescos da igreja do
Santuário de Santa Maria dei Miracolli em troca de dinheiro. Embora
inicialmente se mostre relutante em criar qualquer tipo de empatia com
Bernardino, a atracção entre os dois é evidente. Porém, Simonetta tenta
camuflar os seus sentimentos e tenta esquecê-lo. Simplesmente não consegue
compreender como é que se pode sentir atraída por outro homem quando o seu
marido faleceu há pouco tempo e deveria manter-se, o resto da vida, concentrada
no seu papel de viúva. Contudo, os canônes da igreja católica não vêem com bons
olhos a sua amizade com um judeu nem com Bernardino.
A
vida, no entanto, dá muitas voltas e Simonetta acaba por ter de fazer escolhas
que nunca imaginaria, que resultam no seu amadurecimento enquanto mulher.
Esta
é uma história em que valores como a amizade, a lealdade e a abnegação imperam.
É delicioso ver como as personagens se reconstroem a si mesmas após as várias provações
por que passam e se encontram consigo próprias, descobrindo facetas que
desconheciam. Não deixem de ler este livro. É absolutamente divinal!
5 *****